-
Dengue: pico da doença deve ocorrer até maio, 'Devemos evitar mortes', alerta consultor da OMS
-
Atualmente existe quatro sorotipos circulando, mudanças climáticas e ambientais são fatores que influenciam a explosão de casos em 2024.
- Por Camilla Ribeiro
- 24/02/2024 19h57 - Atualizado há 8 meses
De acordo com estimativas do Ministério da Saúde, o Brasil pode chegar a 4,2 milhões de casos de dengue ainda esse ano quase o triplo do que foi registrado ano passado, cerca de 1,6 milhão.
De acordo com Kleber Luz, infectologista da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a elaboração de diretrizes estratégicas para prevenção e controle das arboviroses é muito difícil reverter o crescimento de casos no país.
"Isso vai acontecer, é pouco provável que o governo consiga conter [a alta nos casos]. Mas é preciso mitigar o problema. Capacitar médicos, enfermeiros, equipes de saúde para tratar a dengue de forma adequada, disponibilizar insumos, como soro, para que as pessoas sejam tratadas. O que devemos fazer é evitar as mortes", disse o consultor da OMS.
O Brasil, até dia 22 de fevereiro, contava com mais de 740 mil casos prováveis de dengue, contabilizando um crescimento de quase 350% em relação ao mesmo período ano passado.
Já foram confirmadas 151 mortes por dengue e 501 sob investigação. Nos dois últimos anos, além do crescimento de casos, o país também registrou recorde de mortes.
Ocorreram 1.053 óbitos em 2022 e 1.094 em 2023 - em toda a série histórica (2000-2023), o Brasil nunca havia ultrapassado a marca de mil óbitos.
De acordo com o Centro de Operações de Emergências do governo federal, cinco estados (AC, GO, MG, ES e RJ) e o DF já declararam situação de emergência em saúde pública por conta da dengue.
“A curva está tendo uma inclinação muito positiva desde o início do ano, e isso é ruim. O gráfico deveria subir mais lentamente, e não é isso que estamos vendo. A expectativa é que a gente bata todos os recordes de dengue em 2024, já que a largada começou com alta velocidade” disse Kleber Luz, infectologista e consultor da OMS
Quando deve ocorrer o "pico" da dengue?
De acordo com o infectologista Alexandre Naime, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), essa é a pergunta principal.
"Só dá para adivinhar o pico quem tiver a bola de cristal. Depende muito das condições climáticas. Se tivermos temperaturas muito altas, muita chuva, o pico pode ser entre abril e maio. Se ocorrer o contrário e a temperatura cair, pode ser em março e abril".
Curva de casos em 2024
Essa curva com os casos de dengue começa a "positivar" no final de março e começo de abril. Neste ano, esse crescimento vem sendo observado desde janeiro.
"Quanto maior o período de calor e chuva, maior a chance de estender o período de maior incidência de dengue por conta da maior facilidade que o mosquito tem de reproduzir. Isso tem correlação direta com mudanças climáticas", disse Alexandre Naime.
A doença já apresenta quatro sorotipos diferentes: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 — todos podem causar as diferentes formas da doença.
Se você já teve dengue tipo 1, você está imune a esse sorotipo. Diante isso uma pessoa pode ter dengue quatro vezes na vida.
Os tipos 1 e 2 são os que mais circulam , mas em 2024 o país está vivendo o retorno da dengue tipo 3 (que não aparecia há 15 anos) e a presença da infecção tipo 4. O que isso causa?
"Se estão circulando os quatro sorotipos, a expectativa é de ter a segunda dengue e com certeza ter a explosão de casos", explica Kleber Luz.